Abono de R$ 3 Mil x Fome em Saquarema: Contradições da Política Local
O mais recente capítulo dessa novela se deu com o anúncio de um abono natalino de R$ 3 mil para os servidores municipais — ativos, inativos, efetivos, comissionados, contratados e conselheiros tutelares. À primeira vista, um gesto generoso. Porém, ao analisarmos o contexto, percebemos que a bondade da prefeita Manoela Ramos de Souza Gomes Alves, de naturalidade araruamense — (sob as bênçãos do ex-prefeito e parceiro político Antônio Peres Alves, também araruamense, envolvido em escândalos passados) — não contempla a sociedade na totalidade.
Enquanto os servidores celebram esse abono, muitas famílias cadastradas no CadÚnico, que deveriam ser beneficiadas pela Moeda Social Saquá, ainda aguardam uma ajuda que não chega. Essas famílias, esquecidas pelo poder público, dependem de ações solidárias de igrejas, ONGs e outras entidades para não passarem fome. É uma contradição gritante: o dinheiro público flui com facilidade para agradar uma base política privilegiada, mas emperra quando deveria alcançar quem mais precisa.
E não para por aí. Em um cenário onde a cidade conta com dois deputados estaduais em exercício, Pedro Ricardo e Franciane Motta, a ausência de posicionamento ou ação é ainda mais estarrecedora. Ambos, representantes diretos de Saquarema na Assembleia Legislativa, parecem inertes diante de tanta aberração, fechando os olhos para os desmandos e priorizando o silêncio conveniente, que ecoa como cumplicidade.
Como se não bastasse o desequilíbrio na alocação de recursos, a aprovação desse benefício contou com a anuência dos vereadores, transformando a Câmara Municipal em mais uma peça do jogo. Os aplausos, claro, têm endereço certo: 2026. Tudo indica que o abono natalino é apenas o início da estratégia para pavimentar o caminho da prefeita rumo à Assembleia Legislativa ou ao Congresso Nacional.
Enquanto o "cercadinho" político saboreia seus vinhos caros e celebra o uso dos cofres públicos para projetos pessoais, o restante da população segue engolindo a seco as migalhas, sem vislumbrar um natal digno. É o retrato de uma cidade onde os interesses políticos prevalecem sobre a justiça social, e o bem comum se perde nos bastidores da disputa pelo poder.
Saquarema merece mais. Não apenas mais justiça, mas também mais ética, mais respeito e mais responsabilidade. E que 2026 seja um momento de reflexão — não apenas para os políticos, mas para os eleitores. Afinal, o destino da cidade não deve ficar à mercê de interesses individuais, mas ser decidido por quem verdadeiramente deseja um futuro melhor para todos.