No Brasil, a possível reeleição de Donald Trump em 2024 vai além do impacto econômico e geopolítico, tocando em questões que poderiam transformar o cenário político de 2026. Fontes do Palácio do Planalto reconhecem que, para o governo brasileiro, os desdobramentos de uma vitória de Trump podem ter efeitos mais profundos e duradouros do que as recentes eleições municipais.
Um interlocutor próximo ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu que, apesar das divergências com os republicanos, o governo considera a vitória de Trump mais significativa para o cenário político nacional do que a disputa de prefeitos. Isso porque, se Trump voltar ao poder, a direita brasileira poderá encontrar uma força renovada, ampliando suas conexões internacionais e sua influência política interna.
Mesmo fragmentado, o grupo liderado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro ainda mantém considerável peso eleitoral e vê na vitória de Trump uma oportunidade de revigorar seu movimento. Bolsonaro, que já anunciou sua intenção de disputar as eleições presidenciais de 2026, poderia se beneficiar das relações construídas com Trump e outros líderes da direita global, como Javier Milei e Viktor Orban. Essas conexões podem reforçar a posição de Bolsonaro como uma figura central na direita brasileira, facilitando seu papel de intermediário na rede internacional conservadora.
No entanto, a volta de Trump à Casa Branca traz preocupações para o governo Lula, sobretudo no contexto de um Partido Republicano que, sob sua liderança, tornou-se mais imprevisível. O receio é de que os republicanos possam dificultar o diálogo com o Brasil, prejudicando áreas importantes, como comércio e meio ambiente. Em contraste, o governo de Joe Biden manteve uma relação mais moderada com o Brasil, embora o foco na América Latina tenha sido limitado e direcionado principalmente para o tema da imigração.
A possibilidade de Trump retornar ao poder também preocupa o mercado financeiro brasileiro. A valorização do dólar e a volatilidade das taxas de juros refletem o chamado "Trump trade", que sinaliza uma economia americana mais fechada e inflacionária. Além disso, Elon Musk, que já se envolveu em debates políticos brasileiros e tem laços com a direita, pode ganhar ainda mais relevância. Trump considera colocar Musk à frente de uma agenda de desregulamentação, o que poderia fortalecer a influência do empresário em diversas esferas da economia e política dos EUA. Para o Brasil, isso representa um potencial desafio, já que o embate entre o governo e o Supremo Tribunal Federal com Musk pode se intensificar.
Embora Trump e a vice-presidente Kamala Harris estejam tecnicamente empatados nas intenções de voto, o resultado final ainda é incerto, em grande parte por conta do sistema de colégio eleitoral. Trump atrai eleitores, sobretudo homens de baixa escolaridade, enquanto Harris é mais popular entre mulheres e jovens – segmentos que podem ser decisivos nas urnas.
Para discutir os efeitos das eleições americanas sobre o mercado brasileiro, o JOTA realizará um debate gratuito nesta quarta-feira, 6 de novembro, com Fabio Graner, analista-chefe, Vivian Oswald, analista internacional, e Iago Bolívar, analista político.