Diante das críticas crescentes, inclusive de aliados, sobre a comunicação do governo federal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu reformular sua estratégia de comunicação. O Palácio do Planalto implementou ajustes que já estão em vigor e deverão se intensificar nos próximos meses, especialmente em um ano de eleições municipais.
Retomando a abordagem utilizada durante seu segundo mandato (2007-2010), Lula planeja intensificar a concessão de entrevistas, com um foco especial na mídia regional durante suas viagens pelo Brasil. A ideia é que o presidente conceda pelo menos uma entrevista por semana, conforme estimam os mais otimistas nos corredores do Planalto, com o objetivo de pautar o debate público de forma mais eficaz. Pesquisas internas da Secretaria de Comunicação Social (Secom) indicam que entrevistas em rádios, agora equipadas com recursos de imagem, têm uma repercussão significativa em diversos tipos de mídia.
Inicialmente, o governo havia apostado nas lives semanais nas redes sociais para manter o presidente em evidência. No entanto, o projeto "Conversa com o Presidente" não alcançou o público esperado, desagrandando Lula e levando ao seu cancelamento. Auxiliares do presidente reconhecem que uma maior exposição na mídia pode aumentar o risco de declarações controversas. Um exemplo disso foi a entrevista à rádio CBN, onde Lula fez um comentário polêmico sobre um projeto de lei relacionado ao aborto, que gerou críticas da oposição e grande repercussão nas redes sociais.
Para mitigar esses riscos e melhorar a comunicação, o presidente será acompanhado em suas viagens pelo ministro interino da Secom, o jornalista Laércio Portela. A nova dinâmica de entrevistas ficou evidente na semana passada, quando Lula visitou Minas Gerais e concedeu entrevistas a rádios locais e a um jornal regional, seguindo o modelo consolidado por Franklin Martins, ex-ministro da Secom, durante o segundo mandato de Lula.
A mudança na Secom já começou. Durante sua visita a Belo Horizonte, Contagem e Juiz de Fora, Lula anunciou investimentos e concedeu entrevistas a rádios locais e ao jornal O Tempo. Esta abordagem inclui entrevistas por escrito a jornais regionais, conversas rápidas com jornalistas e coletivas de imprensa conduzidas por ministros um dia antes das visitas presidenciais.
A avaliação no Planalto é que o atual governo tem realizações a apresentar, mas enfrenta dificuldades na divulgação eficiente dessas conquistas. A primeira-dama, Rosângela da Silva, conhecida como Janja, foi designada para apresentar a plataforma Comunica BR, que compila as entregas e investimentos do governo desde 2023. Está previsto também o lançamento de um aplicativo que permitirá acesso a essas informações por meio de qualquer celular.
Portela e Franklin Martins afirmam que essa mudança na comunicação do governo não está relacionada ao afastamento de Paulo Pimenta da Secom e que a nova estratégia já estava sendo planejada antes da tragédia no Rio Grande do Sul. Pimenta, que ainda acompanha as ações da pasta e mantém seu gabinete no Planalto, não comentou sobre as mudanças.