A recente declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre as eleições na Venezuela gerou uma repercussão negativa significativa, superando até mesmo a controvérsia causada pela visita do presidente venezuelano Nicolás Maduro ao Brasil em 2023. Lula afirmou que não havia "nada de anormal" nas eleições que reelegeram Maduro, o que foi amplamente criticado pela oposição.
Segundo levantamento da consultoria Bites, a declaração de Lula gerou 68,7% de menções negativas no X (antigo Twitter) nos últimos três dias, um aumento em relação aos 59,1% de comentários negativos durante a visita de Maduro ao Brasil. A análise também revelou que as buscas no Google sobre Lula foram fortemente influenciadas por essa pauta negativa.
O impacto da declaração de Lula também foi sentido na mídia latino-americana, com 3.700 reportagens retratando negativamente a relação do presidente brasileiro com Maduro. Em resposta, o Partido dos Trabalhadores (PT) divulgou uma nota reconhecendo a reeleição de Maduro, classificando o processo eleitoral como "pacífico, democrático e soberano".
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela consagrou a vitória de Maduro para um terceiro mandato de seis anos sem apresentar os boletins das urnas e com apenas 80% dos votos apurados, resultando em contestação por parte da comunidade internacional e da oposição venezuelana. Protestos eclodiram em resposta ao resultado, resultando em 11 mortos e 711 detidos, segundo a ONG Foro Penal.
Em entrevista, Lula minimizou a crise, afirmando que não via "nada de grave" ou "assustador" na situação e ressaltou que é "obrigação" reconhecer o resultado das eleições após a divulgação das atas. Ele também criticou a ingerência externa em outros países, defendendo o direito da Venezuela de crescer sem bloqueios.
Essa não é a primeira vez que a associação entre Lula e Maduro causa desgaste político. Em 2023, a visita de Maduro ao Brasil gerou 59% de menções negativas nas redes sociais, segundo a consultoria Quaest. A oposição, especialmente ligada ao ex-presidente Jair Bolsonaro, aproveitou o tema para criticar a reaproximação entre os governos brasileiro e venezuelano.
Especialistas apontam que as declarações de Lula favoráveis a Maduro afastam o brasileiro do posto de líder regional. Durante a visita de Maduro, Lula chamou de "narrativa" as acusações de violações de direitos humanos na Venezuela e afirmou que o conceito de democracia é "relativo".
Lula, no entanto, continua a defender a retomada do vínculo entre Brasil e Venezuela, considerando o país um parceiro estratégico na região, especialmente no contexto da guerra entre Rússia e Ucrânia. Durante a cúpula do Mercosul em julho de 2023, Lula criticou o isolamento da Venezuela, enquanto os presidentes do Uruguai e Paraguai expressaram preocupação com a situação política no país vizinho.
Apesar das críticas, Lula não dá sinais de que mudará sua postura em relação à Venezuela. A questão continua a ser um dos temas internacionais mais explorados pela base de Bolsonaro, que segue utilizando as redes sociais para atacar as declarações do atual presidente sobre o assunto.