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Morre Papa Francisco aos 88 anos: legado de simplicidade e reforma marca a história da Igreja

Primeiro pontífice latino-americano e símbolo de renovação, Francisco faleceu nesta segunda-feira no Vaticano; cerimônias fúnebres começam hoje e corpo será sepultado em Santa Maria Maggiore.

Atualizado em 21/04/2025 às 10:04, por Redação RL em Foco.

O Vaticano confirmou, na manhã desta segunda-feira (21), a morte do Papa Francisco, aos 88 anos. O pontífice, que liderou a Igreja Católica por quase 12 anos, faleceu em sua residência oficial, na Casa Santa Marta, às 7h35 (horário local), 2h35 no horário de Brasília. Ele enfrentava complicações causadas por uma pneumonia bilateral e estava sob cuidados médicos após uma internação prolongada.

De acordo com nota oficial divulgada pela Santa Sé, a causa exata da morte será detalhada em um boletim previsto para as 15h (horário de Brasília). O comunicado destaca que "toda a vida de Francisco foi dedicada ao serviço do Evangelho, com coragem, compaixão e compromisso com os mais pobres".

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O sino da Basílica de São Pedro tocou pela manhã, anunciando a morte do pontífice a peregrinos e turistas reunidos no Vaticano durante as celebrações da Páscoa. Emocionados, muitos fiéis prestaram homenagens diante da sede da Igreja Católica.

As cerimônias fúnebres já têm início nesta segunda-feira. Às 14h, será celebrada uma missa de sufrágio na Basílica de São João de Latrão, conduzida pelo cardeal Baldo Reina. Uma hora depois, ocorrerá a deposição do corpo do papa no caixão, em cerimônia privada liderada pelo camerlengo Kevin Farrell.

Na quarta-feira (23), o corpo será trasladado para a Basílica de São Pedro, onde ficará exposto para visitação pública. O sepultamento será realizado na Basílica de Santa Maria Maggiore — uma escolha incomum, não vista desde o funeral do Papa Leão XIII, em 1903.

Nascido em 17 de dezembro de 1936, em Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio foi o primeiro papa oriundo da América Latina, o primeiro jesuíta a ocupar o trono de Pedro e o primeiro a suceder um pontífice vivo, após a renúncia de Bento XVI em 2013.

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Escolhido no segundo dia de conclave, Bergoglio admitiu mais tarde que relutava em aceitar o papado. Ainda assim, seu pontificado foi marcado por coragem e uma forte inclinação pastoral. Escolheu o nome "Francisco" em homenagem a São Francisco de Assis, símbolo de humildade e defensor dos pobres — causas que nortearam sua liderança.

Antes da vida eclesiástica, Bergoglio era técnico químico e professor de literatura. Sua formação intelectual e aproximação com o povo tornaram-no uma figura singular dentro da hierarquia católica. Com estilo simples e direto, conquistou o carinho de fiéis e respeito de diferentes vertentes sociais e religiosas.

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Durante seu papado, Francisco promoveu reformas administrativas na Cúria Romana e enfrentou temas sensíveis como abuso sexual dentro da Igreja, desigualdade de gênero, acolhimento a pessoas LGBTQIA+ e crise de refugiados. Ainda que conservador em alguns pontos — como a ordenação de mulheres ou a rejeição ao aborto —, ele abriu espaço para novos debates e promoveu uma visão mais inclusiva.

Entre os avanços, destacou-se o apoio à bênção de casais homoafetivos, a nomeação de mulheres para cargos-chave no Vaticano e a permissão para que votassem no Sínodo dos Bispos.

Contudo, foi criticado por setores mais progressistas por não romper totalmente com tradições milenares. Já os ultraconservadores o viam como um reformista radical, tentando minar estruturas rígidas da Igreja.

O Papa Francisco reza sozinho na Praça de São Pedro durante a pandemia do Coronavírus — Imagem: Reprodução/Vaticano

Francisco também se tornou símbolo de solidariedade durante a pandemia da Covid-19. Em uma das imagens mais marcantes de seu pontificado, rezou sozinho na Praça de São Pedro vazia, em março de 2020, pedindo esperança ao mundo.

Politicamente, não se isentou de opinar. Criticou líderes como Vladimir Putin, Benjamin Netanyahu e apontou omissões da União Europeia frente à crise migratória. Repetidamente, usou a voz papal para denunciar a pobreza, a desigualdade e o desrespeito aos direitos humanos.

Mesmo com limitações físicas nos últimos anos — como dores no quadril e dificuldades respiratórias —, Francisco resistiu à ideia de renúncia. "Estou indo em frente", declarou certa vez, descartando seguir o exemplo de Bento XVI.

Especialistas consideram seu legado como parte de uma transformação mais ampla iniciada no Concílio Vaticano II. Para o vaticanista Marco Politi, Francisco "não alterou a doutrina, mas transformou a forma como a Igreja olha para o mundo".

Filho de imigrantes italianos, Bergoglio cresceu nos bairros populares de Buenos Aires. Admirador do tango e torcedor do San Lorenzo, teve trajetória de dedicação à educação e à formação de novos sacerdotes. Foi ordenado em 1969, tornou-se arcebispo da capital argentina em 1997 e cardeal em 2001.

Com fama de ser reservado e avesso a luxos, recusou viver nos aposentos papais tradicionais e manteve-se fiel ao estilo austero até o fim. Para muitos, será lembrado como o papa do povo — aquele que ouviu, acolheu e tentou reconstruir a confiança dos católicos em sua Igreja.