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Natal de Luz sob suspeita: árvore de R$ 2,48 milhões expõe falhas e possíveis irregularidades na licitação de Saquarema

Contratação milionária levanta dúvidas sobre superfaturamento, favorecimento e decisões técnicas controversas após empresa com capital social menor que o valor do próprio item vencer disputa marcada por desclassificações incoerentes e documentos contraditórios

Atualizado em 18/11/2025 às 10:11, por Dinho Cardoso.

Casa do Papai Noel

A contratação milionária para o “Natal de Luz de Saquarema 2025” acendeu uma série de alertas e colocou sob suspeita um processo licitatório que, em vez de transparência, apresenta contradições, decisões controversas e números que destoam completamente da realidade de mercado. No centro da discussão está a árvore natalina flutuante que custará R$ 2,48 milhões — um valor superior ao de imóveis de luxo em Itaúna — e que, sozinha, já supera o capital social declarado pela empresa vencedora, a Word Efeittos LTDA, que possui apenas R$ 2 milhões registrados. O desequilíbrio entre a capacidade financeira da contratada e o tamanho do objeto licitado contraria princípios básicos de segurança administrativa e chamou atenção de empresas concorrentes, que apontam riscos na execução e questionam o porquê de uma empresa teoricamente menor ter sido escolhida para um projeto dessa magnitude. Apesar disso, a Word foi habilitada sem ressalvas, enquanto outras concorrentes enfrentaram exigências vistas como duras, incoerentes e, em algumas etapas, seletivas. Somados, os valores destinados à empresa ultrapassam R$ 11,3 milhões, considerando a iluminação e ornamentação natalina que somam mais R$ 8,8 milhões — tudo isso sem que o empenho tenha sido emitido até agora, o que reforça o clima de incerteza sobre a regularidade e a continuidade do contrato.

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Uma das concorrentes, a Imperial Soluções Elétricas, formalizou recurso alegando uma série de inconsistências no julgamento dos documentos apresentados. Segundo a empresa, papéis entregues corretamente foram repetidamente questionados, enquanto pendências de outras empresas não receberam o mesmo rigor. A Imperial afirmou ainda que o processo adotou um excesso de formalismo direcionado, criando obstáculos que não foram aplicados de maneira uniforme. A empresa já anuncia que ingressará na Justiça com mandado de segurança e levará o caso ao Tribunal de Contas do Estado, alegando evidente falta de isonomia. A situação se agrava com o fato de os pareceres técnicos que definiram a inabilitação de concorrentes e a habilitação da Word terem sido assinados não por equipes técnicas especializadas, como seria praxe em pregões eletrônicos, mas diretamente pelo Secretário de Turismo. Esse acúmulo de funções e a centralização das decisões técnicas em um agente político geram suspeitas de interferência e falta de transparência.

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Entre os episódios mais questionados está a desclassificação da empresa A7 Superiori, que apresentou o menor preço para a árvore flutuante: R$ 1,75 milhão — quase R$ 700 mil a menos que o valor final contratado. A justificativa, genérica e sem detalhamento técnico, contrariou práticas comuns de licitações públicas, que exigem explicações objetivas para afastar uma proposta mais vantajosa ao erário. A decisão, segundo analistas, abriu caminho para que a Word Efeittos, com o segundo maior valor entre as participantes, assumisse o projeto. A empresa, inclusive, já havia sido responsável pelo Arraiá da Vila, outro evento marcado por críticas a preços inflados e falta de transparência, o que reforça a desconfiança atual.

O processo licitatório também apresenta uma série de documentos e atas com informações divergentes, como troca de numeração entre grupos, confusão de itens contratados e inconsistências que dificultam a rastreabilidade da disputa. Para especialistas, esse tipo de falha não apenas compromete a clareza do processo, como também abre brechas para erros que favorecem interpretações subjetivas, podendo distorcer o julgamento das propostas. A análise dos valores contratados também levanta sérias dúvidas: itens como uma Casa do Papai Noel feita de compensado, orçada em R$ 210 mil, e barracas de expositores por mais de R$ 28 mil cada, destoam do padrão de preços praticado por outras cidades em eventos similares. Árvores flutuantes semelhantes, por exemplo, têm sido contratadas em capitais brasileiras por valores de um quarto ou até um quinto do preço que Saquarema pretende pagar.

Diante de todas essas inconsistências — valores acima do mercado, capital social incompatível, desclassificação injustificada da proposta mais barata, pareceres assinados por quem deveria apenas supervisionar e um histórico de contratos polêmicos envolvendo a mesma empresa — surge um cenário que aponta para possíveis irregularidades e, segundo concorrentes, indícios claros de superfaturamento. Com o processo sob contestação, denúncias encaminhadas ao TCE-RJ e expectativa de judicialização, a licitação do Natal de Luz de Saquarema 2025 tende a se tornar um caso emblemático na esfera pública local. Enquanto o projeto aguarda empenho e a cidade observa perplexa a escalada dos valores, uma pergunta se repete entre moradores, empresas concorrentes e especialistas em gestão pública: por qual motivo Saquarema estaria prestes a pagar mais por uma árvore de Natal flutuante do que pelo valor de uma mansão em um dos bairros mais valorizados do município?