Confundido com ladrão e baleado, estudante questiona abordagem de PM reformado no Rio: "Fui punido por ser preto?"
Igor Carvalho, estudante de jornalismo e publicidade, foi alvejado nas costas enquanto retornava do trabalho; mototaxista também foi vítima do ataque.
Atualizado em 10/03/2025 às 07:03, por
Redação RL em Foco.
?Na madrugada de 24 de fevereiro de 2025, o estudante de jornalismo e publicidade Igor Carvalho, de 31 anos, foi baleado nas costas por um policial militar reformado na Penha, Zona Norte do Rio de Janeiro. Igor retornava do trabalho como garçom em uma casa de samba e havia solicitado um mototáxi por aplicativo para voltar para casa. O mototaxista Thiago Marques Gonçalves, de 24 anos, também foi vítima do ataque.
Segundo relatos, por volta das 1h30, um veículo emparelhou com a moto em que estavam Igor e Thiago. O motorista do carro, identificado como Carlos Alberto de Jesus, policial militar reformado, apontou uma arma em direção aos dois e efetuou disparos. Assustados, Igor e Thiago se jogaram de um viaduto de aproximadamente quatro metros de altura para escapar dos tiros.
Após a queda, Igor percebeu que havia sido baleado e perdeu muito sangue. Thiago buscou ajuda e reconheceu o autor dos disparos junto a policiais que estavam no local. Mesmo sendo vítimas, ambos foram inicialmente acusados de roubo. Thiago foi preso por dois dias, e Igor, internado no Hospital Estadual Getúlio Vargas, ficou sob custódia policial.
Durante a internação, Igor passou por cirurgias, perdeu um rim e teve parte do estômago e intestino comprometidos. Após cinco dias, recebeu alta hospitalar e segue em recuperação.
Carlos Alberto de Jesus alegou que estava respondendo a um pedido de ajuda de sua namorada, Josilene da Silva Souza, que teria sido assaltada na região. No entanto, houve inconsistências em seus depoimentos e nos de Josilene. Inicialmente, ela afirmou que Igor estava armado e que Thiago efetuou disparos. Posteriormente, mudou sua versão, dizendo ter visto um volume na cintura de Igor e deduzido que fosse uma arma.
A Polícia Militar do Rio informou que Carlos Alberto está aposentado desde 2020 e não possui arma da corporação, e que o caso está sob investigação na corregedoria. A Polícia Civil também investiga a responsabilidade de Carlos Alberto e Josilene pelas inconsistências nos depoimentos.
O Instituto de Defesa da População Negra manifestou-se sobre o caso, afirmando que buscará a responsabilização de todos os envolvidos e a reparação a Igor. Além disso, pretende propor um projeto de lei para assegurar indenizações justas a pessoas acusadas injustamente pelo Estado.
Clubes de futebol, como o Botafogo, também se pronunciaram, desejando força e uma pronta recuperação a Igor, que é torcedor e administrador da página "Informe Botafogo".
Igor e Thiago, ambos trabalhadores e sem antecedentes criminais, buscam justiça e a responsabilização do autor dos disparos. O caso levanta questões sobre violência policial, racismo e a necessidade de revisão de protocolos de abordagem.