Comediante relata abuso em programa de TV e acusa Otávio Mesquita de estupro
Juliana Oliveira afirma que era isolada em banheiro para evitar contato com o apresentador; caso é investigado pelo MP-SP.
A comediante Juliana Oliveira, ex-integrante do programa The Noite, do SBT, revelou novos detalhes da acusação de estupro que envolve o apresentador Otávio Mesquita. Segundo ela, o episódio aconteceu durante uma gravação do talk show em 2016, quando teria sido tocada de forma não consensual pelo convidado, em plena exibição do programa.
Juliana relata que, após o ocorrido, passou a ser escondida pela própria produção do programa sempre que Mesquita aparecia no estúdio. "Fui trancada diversas vezes no banheiro para que ele não me visse. Me sentia tratada como culpada", declarou a humorista em uma publicação feita nas redes sociais na última terça-feira (15).
De acordo com a comediante, o abuso ocorreu enquanto Mesquita fazia uma entrada cênica no palco, de cabeça para baixo e usando equipamentos de segurança — uma cena previamente ensaiada. No entanto, Juliana afirma que o apresentador ultrapassou os limites ao tocá-la de maneira inapropriada.
"Ele já chegou com as mãos no meu corpo. Pegou nos meus seios e nas minhas nádegas, e depois me agarrou com força. Aquilo foi violência", contou. Ainda segundo ela, as imagens mostram que tentou reagir, desferindo tapas e chutes, mas mesmo assim ele persistiu.
A representação criminal foi protocolada por Juliana no Ministério Público de São Paulo em março deste ano. No início de abril, o MP solicitou à Polícia Civil a abertura de um inquérito para apurar os fatos.
A humorista relata que procurou ajuda dentro da emissora ainda em 2016, mas afirma que suas queixas foram ignoradas. A única medida adotada pelo The Noite, segundo ela, foi não convidar mais Otávio Mesquita para o programa.
Apesar disso, o apresentador teria continuado frequentando os estúdios da emissora para gravações de outros projetos, o que levou a produção a isolar Juliana sempre que ele estava presente. "Fiquei anos sendo trancada. Só em 2020 comecei a entender o que aconteceu comigo, ao ver outras denúncias vindo à tona", disse, em referência ao caso envolvendo Dani Calabresa e Marcius Melhem.
Em 2024, Juliana formalizou uma denúncia ao canal por meio do setor de compliance. No entanto, pouco tempo depois, foi demitida da emissora, onde trabalhava há mais de uma década. "Denunciei para uma empresa comandada por mulheres e nem assim fui ouvida", desabafou. "Só levei o caso à Justiça porque o SBT não fez nada."
Até o momento, a emissora não se pronunciou oficialmente sobre o caso.
Procurado, Otávio Mesquita negou as acusações e classificou o caso como "absurdo" e "calunioso". Em vídeos publicados nas redes sociais, afirmou que a cena foi ensaiada e que jamais houve intenção de desrespeito.
"Esse episódio foi ao ar há quase 10 anos. Não houve nenhuma reclamação na época. Só agora surgiu essa interpretação. Sinto muito se a brincadeira foi mal compreendida", disse. "Hoje, vendo com outros olhos, percebo que não repetiria aquilo. Mas dizer que houve estupro é um exagero enorme."
Apesar de negar o crime, Mesquita afirmou que tomará medidas legais para se defender e reconheceu que o comportamento pode ter sido inadequado. "Se exagerei, peço desculpas. Mas é preciso separar uma encenação de uma acusação tão grave."
O advogado Hédio Silva Jr., que representa Juliana Oliveira, explicou que, segundo o Código Penal brasileiro, o ato de constranger alguém com violência ou grave ameaça para fins libidinosos configura estupro — mesmo que não haja penetração.
"A lei é clara: desde 2009, qualquer ato libidinoso forçado pode ser enquadrado como estupro. E as imagens do programa mostram que ela resistiu ao abuso", afirmou.
O caso agora está sob análise do Ministério Público e aguarda os desdobramentos da investigação policial












