O RJ1 colocou rastreadores em peças visadas por bandidos a fim de descobrir para onde esses materiais arrancados das ruas do Rio de Janeiro vão.
A série Rota do furto, que começou nesta segunda-feira (25), vai mostrar em 4 capítulos como funciona o mercado ilegal que mantém ferros-velhos funcionando à margem da lei — e quase sempre sem parar.
Só os furtos de cabos, por exemplo, tornam cruzamentos mais perigosos, atrasam trabalhadores e deixam ruas no breu.
Bandidos que miram sinais de trânsito não estão atrás apenas de cabos. Controladores, peças que chegam a pesar 25 quilos, são levados inteiros, às vezes até dentro da caixa que deveria dificultar o furto.
A Grande Tijuca registra muitos desses crimes. Na Rua Barão de Cotegipe, em Vila Isabel, ladrões levaram um controlador que comandava 4 semáforos.
Câmeras de segurança da rua gravaram o furto. Três homens levam menos de 10 minutos para cortar todos os fios e soltar o gabinete — um deles chega a pular na peça para forçar que se solte do chão.
O RJ1 botou rastreadores em partes de alguns sinais, como o do cruzamento das ruas São Francisco Xavier e Professor Manoel de Abreu, no Maracanã; o das ruas Professor Manoel de Abreu e Eurico Rabelo, também no Maracanã; o da Avenida Maracanã com Rua José Higino, na Tijuca; e das ruas Uruguai e Maxwell, no Grajaú.
Duas semanas depois da instalação do rastreador na esquina do Grajaú, o sinal de GPS indicou que houve uma movimentação — o controlador foi mais uma vez alvo de ladrões.
Os dados indicavam que o equipamento percorreu uma distância de pouco mais de 2 quilômetros. Foi parar na Rua Visconde de Niterói, na altura da Mangueira, também na Zona Norte. Um dia depois, o sinal mostrava que a placa atravessou a linha do trem para a Avenida Rei Pelé, antiga Radial Oeste.
No local, funciona um ferro-velho que não fecha — o que é proibido por uma lei municipal criada no ano passado. Esse tipo de estabelecimento só pode abrir entre 6h e 21h.
De madrugada, tem até fila para vender material. Bem perto dali, na Avenida Rei Pelé, próximo da Estação Maracanã, homens fazem uma fogueira para derreter a borracha que recobre os fios de cobre, vendidos a peso no ferro-velho.
A placa com o rastreador ficou no ferro-velho da Mangueira por 4 dias, até que foi levado para Benfica, a 1 km dali, em uma empresa de reciclagem.
O RJ1 foi até o galpão com a Secretaria de Ordem Pública. O sinal de localização do rastreador apontava para uma pilha de material já compactado.
Os fiscais da Seop reviraram tudo à procura da placa, mas nada foi encontrado.
O encarregado da empresa disse que não compra materiais proibidos, mas reconheceu que não sabe a procedência de tudo que chega.
"Os materiais que são proibidos, quando vem, a gente devolve. Tipo ralo de rua, bueiro, trilho, pedaço de carro", disse José Manuel.
Sobre a placa furtada, ele respondeu: "Se veio para cá, para te falar a verdade, eu não vi. Não sei se te explicar, se veio escondido, a gente não consegue ver. Às vezes vem embaixo da sucata isso aí."
Brenno Carnevale, secretário municipal de Ordem Pública, disse que desde janeiro de 2021 já foram apreendidas mais de 30 toneladas de materiais como fios, cabos e ferros.
"A cidade tem esse problema de furto de fios, de cabos. Não à toa a gente faz essas fiscalizações diariamente", destacou.
O secretário lembrou que ferros-velhos seguem "um regramento específico".
"A gente exige livro de cadastro e apresentação de fornecedor justamente porque sabemos que é um mercado que está causando prejuízo para a cidade", falou.
Fonte: g1