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Saquarema e a sombra dos contratos da saúde: moradores enfrentam filas enquanto milhões são investigados

As investigações revelam que contratos milionários da saúde em Saquarema beneficiaram familiares e aliados políticos, enquanto moradores enfrentavam filas e atendimento precário

Atualizado em 12/09/2025 às 10:09, por Dinho Cardoso.

Envolvidos na operação

No coração de Saquarema, onde moradores ainda enfrentam longas esperas por atendimento médico e filas em hospitais, um escândalo de proporções estaduais coloca a cidade no centro de uma rede de investigações. A Polícia Federal, junto ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas do Estado, tenta entender como contratos que somam bilhões de reais em diferentes municípios do Rio de Janeiro acabaram beneficiando familiares e aliados políticos, deixando para trás um cenário de precariedade no atendimento.

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A operação, batizada de Antracito, foi deflagrada no último dia 10 e cumpriu mandados em sete cidades fluminenses. Entre elas, Saquarema aparece como peça importante de um quebra-cabeça que vai muito além da gestão local. Documentos e planilhas levantados por órgãos de controle sugerem que a organização social Prima Qualitá, contratada para gerir hospitais e unidades de saúde no município, se transformou em porta de entrada para uma rede de contratos suspeitos.

Enquanto as denúncias ganhavam espaço em reportagens da TV Globo, a rotina dos moradores seguia a mesma: pacientes aguardando por consultas, remédios em falta e servidores relatando falta de condições para trabalhar. O contraste entre o dinheiro movimentado — cifras milionárias — e a realidade vivida nos corredores das unidades médicas tornou-se ainda mais gritante.

Entre os nomes que surgem na investigação, estão familiares diretos da ex-prefeita Manoela Peres e pessoas ligadas ao então secretário de Saúde, João Alberto Teixeira. Irmãos, genros e até cunhados aparecem listados em contratos com salários que chegavam a R$ 50 mil por mês, alguns deles acumulando funções em empresas privadas, em outros estados, no mesmo período. Para os investigadores, esse seria um indício claro de incompatibilidade de horários e de uso político da máquina pública.

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O Tribunal de Contas do Estado identificou que empresas recém-criadas, ligadas a funcionários da própria organização social, passaram a receber contratos vultosos sem justificativa técnica. Uma delas, aberta apenas quatro dias antes da assinatura do contrato, garantiu R$ 1,5 milhão em repasses. É nesse ponto que as denúncias deixam de ser apenas números em processos e passam a refletir a fragilidade do sistema de saúde.

Na cidade, a sensação é de descrença. “A gente chega cedo no posto, fica horas esperando e muitas vezes não consegue ser atendido. Se tem tanto dinheiro entrando, por que a saúde continua assim?”, questiona uma moradora que prefere não se identificar.

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Além do Executivo, a rede de apoio político levantada pelas denúncias se estenderia ao Legislativo local e até à Alerj, reforçando a tese de que a Prima Qualitá encontrou sustentação não apenas em contratos, mas em alianças capazes de garantir sua permanência. Imagens exibidas pela televisão chegaram a mostrar parlamentares e gestores vestindo camisetas da organização em eventos de confraternização, simbolizando a proximidade com a entidade.

Agora, com o processo em tramitação no TCE-RJ, a expectativa é que as apurações indiquem até onde esse esquema se estendeu e quais serão as responsabilidades atribuídas aos envolvidos. Se confirmadas as suspeitas, além da improbidade administrativa, eles poderão enfrentar acusações criminais como peculato, lavagem de dinheiro e associação criminosa.

Enquanto isso, o que permanece é a sensação de que os milhões investidos não se traduziram em melhora para quem mais precisa. Nos corredores de hospitais e postos de saúde de Saquarema, a população continua aguardando uma resposta — não apenas da Justiça, mas também da própria cidade, que hoje convive com o peso de estar no epicentro de mais um escândalo.