Operação Blasfêmia desmonta call center da fé no Rio de Janeiro
Quadrilha usava falsas promessas de milagres para arrecadar milhões com depósitos via Pix em todo o país.
Reprodução / PCERJ
Na manhã desta quarta-feira, a Polícia Civil do Rio de Janeiro deflagrou uma operação que revelou um dos esquemas mais controversos dos últimos anos: a fé sendo usada como fachada para um negócio milionário. A ação, batizada de Operação Blasfêmia, desmontou uma engrenagem que funcionava como um call center da religião, onde orações e promessas de milagres eram convertidas em depósitos via Pix.
O que parecia um serviço de acolhimento espiritual era, na prática, uma central de telemarketing com metas, comissões e até demissões para quem não alcançava o faturamento esperado. Jovens recrutados em sites de emprego eram treinados para se passar por um pastor conhecido de São Gonçalo. Com áudios cuidadosamente preparados, simulavam bênçãos e milagres, oferecendo “orações personalizadas” que custavam de vinte reais a mais de mil e quinhentos.
O disfarce começou a cair em fevereiro, quando agentes da 76ª DP flagraram dezenas de atendentes em pleno expediente, cada um com celular na mão e roteiro em voz. A cena lembrava qualquer empresa de telemarketing, mas em vez de vender planos de internet, ali se comercializava fé. Na mesma ocasião, foram apreendidos equipamentos, centenas de chips de telefone e documentos que comprovam a amplitude da fraude.
As investigações mostraram que o grupo se espalhou pelo país, arrecadando mais de três milhões de reais em apenas dois anos. Para escapar do rastreamento, usavam contas de laranjas e empresas de fachada, numa engenharia financeira digna de corporações criminosas de grande porte.
O homem apontado como líder do esquema, um pastor com forte presença em São Gonçalo, foi denunciado junto a outros 22 envolvidos. Hoje, ele cumpre monitoramento com tornozeleira eletrônica, enquanto as autoridades buscam novas vítimas e tentam mapear todos os braços dessa rede.
No fim, a chamada “central da fé” mostrou que a espiritualidade, quando manipulada, pode virar um produto de alto lucro — mas também de grandes consequências criminais.
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