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Polícia

Polícia investiga major da PM por suspeita de ameaça contra ex:

Luana Keioze conta que teve que sair temporariamente do apartamento onde mora e mudar sua rotina. Ela procurou a Justiça por medo das ameaças feitas por Paulo Araújo, policial do Batalhão de Rondas Especiais e Controle de Multidão (RECoM).


A Polícia Civil do Rio de Janeiro investiga o major da Polícia Militar Paulo Araujo, lotado no Batalhão de Rondas Especiais e Controle de Multidão (RECoM), por supostas ameaças contra a ex-namorada, a jornalista Luana Keioze.

Segundo ela, Paulo vem seguindo seus passos no bairro onde eles moram, em Copacabana, na Zona Sul do Rio. Luana contou ao g1 que o major tem um comportamento agressivo, já fez ameaças diretas e de forma velada e até deu voz de prisão contra ela dentro de uma academia de musculação, após uma discussão entre eles.

Os dois são vizinhos de prédio e namoraram por cerca de três meses. O relacionamento acabou em abril deste ano e desde então a vida de Luana, segundo ela, "virou um inferno". Na última quarta-feira (20), a jornalista gravou um vídeo em suas redes sociais, em que disse estar correndo risco de vida.

"Estou correndo risco de vida e por isso conto com a ajuda de vocês. Há cinco meses eu terminei um namoro de apenas três meses com o Paulo. Nós somos vizinhos, engatamos um namoro e após três meses descobri suas traições, diversas, e decidi colocar um ponto final nesse namoro", contou.

"Ocorre que o Paulo não aceitou e há cinco meses ele não tem poupado esforços para fazer do meu cotidiano os piores dias da minha vida", denunciou.

Ainda de acordo com o relato de Luana, Paulo tem utilizado seu cargo de oficial da Polícia Militar para perseguir e coagir a jornalista.

"Ele, como oficial superior da PMERJ, tem utilizado todos os privilégios de sua carreira para me ameaçar, agredir, difamar e coagir, mas ele não vai me transformar numa vítima de feminicídio no Brasil", contou a jornalista.

Segundo a jornalista, o major da PM já demonstrava sinais de agressividade e um comportamento possessivo ao longo do período que estiveram juntos. Luana disse ter tentado terminar com ele várias vezes.

"Durante o período que eu estava com ele, quando eu estava trabalhando, nunca consegui ficar sem receber 20, 30 ligações, chamadas de vídeo, várias mensagens. (...) E quando eu retornava, ele queria saber por que eu não atendi. Sempre muito desproporcional".

"Eu tentava conversar, tentava terminar e não conseguia. Ele me perseguia, chegou a dormir na escada do meu prédio. Teve uma vez que cheguei de viagem e ele dizendo que se eu não ficasse com ele não ficaria com mais ninguém", disse Luana.

Luana comentou ainda que, depois do término do namoro, Paulo passou a vigiar sua rotina.

Um dos episódios que revoltaram a jornalista aconteceu na academia onde os dois malhavam. Segundo ela, os dois já não estavam juntos, e Luana fazia sua atividade física sozinha.

Paulo teria entrado na academia e começado uma discussão com Luana. Ainda de acordo com os relatos, ele fez ameaças contra a ex-namorada na frente de todos. Em seguida, Paulo teria dado voz de prisão contra Luana.

"Há 15 dias ele adentrou a academia SmartFit, me viu malhando lá e, na frente de dezenas de pessoas, ameaçou acabar com a minha vida. Ele falou que vai acabar com a minha vida e me deu uma voz de prisão".

"Uma voz de prisão porque eu não estou com ele? Porque ele me viu ali malhando, sozinha? É um major da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro", comentou Luana.

Morando em hotel

Luana informou que conseguiu na Justiça uma medida restritiva contra Paulo, para que ele mantenha uma distância de 250 metros dela. Contudo, segundo ela, o Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ) teria reduzido a distância mínima permitida para 50 metros.

A jornalista disse ainda que o medo do ex-namorado fez com que ela se mudasse para um hotel.

"Eu não tenho dormido em casa. Eu tô em um hotel. Eu tenho precisado de favores de amigos. Não consigo mais ficar em paz dentro da minha casa, nem andar nas ruas", desabafou.

"Eu moro no mesmo lugar há mais de dez anos, e ele, há menos de dez meses. Eu tô presa, e ele livremente me rondando. O que mais precisa acontecer para que esse homem saia de perto de mim, pelo amor de Deus?", concluiu a jornalista.

Após a publicação do vídeo em suas redes sociais, Luana contou ao g1 que passou a receber muitas mensagens de apoio e que isso tem sido reconfortante para ela nesse momento difícil.

"Eu tinha muito medo e vergonha de expor tudo que eu estava passando, mas isso foi se transformando em conforto. Me sinto acolhida por todos, embora ainda esteja triste e com medo. Eu sei que muitas mulheres passam por isso, inclusive com ele mesmo, e eu espero ajudar para que elas também procurem ajuda. Denunciem".

"Eu não vou ficar esperando pra ver o que vai acontecer, se vai passar das ameaças. Eu só tenho a minha voz. Se ele tem arma e colete, eu tenho a minha voz", concluiu Luana.

O que dizem os citados

Em nota, o advogado Pedro Gabrig, que faz a defesa do militar, disse que seu cliente "nega veementemente as acusações feitas por sua ex-namorada, Luana Keioze". Ainda de acordo com Gabrig, "Paulo e Luana tiveram um curto relacionamento consensual, o qual findou em abril deste ano. Desde então cada um seguiu a sua vida, apesar de Luana e Paulo serem vizinhos".

De acordo com a defesa do PM, "o vídeo gravado por Luana na academia não comprova as suas acusações. Dele não é possível extrair qualquer ameaça feita por Paulo, muito menos algum pedido para reatarem o relacionamento. O desentendimento na academia foi motivado pela cobrança de uma dívida pretérita que Luana tem com Paulo, e não por uma suposta perseguição e tentativa de reatar o relacionamento, como ela relata", destacou a defesa.

O advogado salienta ainda que, "desde o episódio, a defesa de Paulo vem voluntariamente contribuindo com as investigações, sendo certo que ele deixou a sua residência assim que foi intimado da concessão de medidas protetivas, e só retornou após expressa autorização judicial. Mesmo após a autorização, Paulo não está residindo em seu apartamento alugado, justamente para não encontrar com Luana, e retorna ocasionalmente à sua residência apenas para buscar roupas. Paulo entregou voluntariamente o seu armamento à corporação e não possui qualquer outra arma de fogo".

Ao contrário do quanto dito por Luana, Paulo não foi expulso da rede de academias. Ele voluntariamente cancelou o seu plano por solicitação própria em outra unidade, após o desentendimento, conforme o comprovante entregue pela rede. A Defesa reitera que a investigação corre sob sigilo, reafirma o compromisso de Paulo com a Justiça e repudia a tentativa de linchamento virtual promovida com a publicação do vídeo", destacou o advogado.

A Polícia Civil do Rio de Janeiro confirmou que o caso foi registrado na 12ª DP (Copacabana) e que os agentes da unidade realizam diligências para concluir as investigações.

Em nota, a Smart Fit respondeu aos questionamentos do g1 sobre a suspeita de agressão dentro de uma de suas unidades. A empresa informou que deu todo o suporte à aluna e adotou todas as medidas cabíveis. Luana também informou à reportagem que no dia que foi atacada na academia, a empresa acionou o protocolo de segurança e chamou a polícia, que foi até o local e garantiu a segurança da jornalista.

A PM informou que a Corregedoria instaurou um procedimento apuratório para averiguar as circunstâncias do ocorrido.


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