O agente da Polícia Rodoviária Federal (PRF) que invadiu, à paisana, o hospital para onde foi a menina baleada em uma abordagem de colegas foi investigado na Máfia dos Combustíveis e chegou a ser demitido da corporação, mas acabou reintegrado por decisão da Justiça Federal.
Newton Agripino de Oliveira Filho aparece em imagens de câmeras do Hospital Adão Pereira Nunes circulando pelos corredores sem ser incomodado, enquanto Heloísa dos Santos Silva recebia o primeiro atendimento — ela morreu no último sábado (16). Ele conseguiu entrar na emergência pediátrica e falar com o pai de Heloísa.
O agente foi um dos alvos da Operação Poeira no Asfalto, deflagrada pela Polícia Federal (PF) em novembro de 2004, contra um esquema de adulteração de combustíveis e sonegação de impostos. Na época, Newton era da 5ª Superintendência Regional e chefe do Núcleo de Operações Especiais.
Segundo as investigações, o caso de Newton era mais específico: ele supostamente promoveu abastecimentos falsos em viaturas oficiais da PRF, a fim de embolsar o dinheiro. Os horários em que bombas nos postos eram acionadas para encher o tanque de cada carro apareciam como quase simultâneos — não daria tempo para acabar o combustível.
Em 2009, a PRF demitiu Newton. Em 2017, ele virou réu após o juiz Vitor Barbosa Valpuesta, da 3ª Vara Federal Criminal, aceitar denúncia do Ministério Público Federal (MPF).
Em 2019, porém, a juíza Rosália Monteiro Figueira, da mesma vara, absolveu Newton por entender que a acusação de peculato (desvio de dinheiro público) "não restou devidamente comprovada".
Em janeiro de 2020, Newton foi reintegrado à PRF. Em 2021, ele foi nomeado chefe da Seção de Tecnologia da Informação e Comunicação da PRF no Rio.
Atualmente, Nilton Agripino está lotado no posto da PRF da Pavuna.
Newton foi um dos 28 policiais rodoviários federais que, segundo a família de Heloísa, estiveram no hospital logo após o incidente de 7 de setembro.
A informação consta do pedido de prisão que o MPF enviou à Justiça contra os 3 policiais rodoviários envolvidos no crime.
"No dia do evento se dirigiram ao hospital Adão Pereira Nunes 28 policiais, os quais, segundo palavras da própria testemunha, ficaram vasculhando e "mexendo" no carro [onde Heloísa estava] durante certo tempo", escreveu o procurador da República Eduardo Benones.
"Inclusive [a tia] relatou que um dos policiais que não participou do ocorrido apontou-lhe um projétil e disse que aquele projétil atingiu o veículo deles, numa tentativa inequívoca de intimidar a testemunha e incutir nela a versão sustentada pelos policiais. Isto tudo ocorreu no ambiente hospitalar, quando a vítima Heloísa recebia atendimento médico cirúrgico", descreveu.
Sobre Newton, Benones escreveu: "O policial rodoviário federal Newton Agripino de Oliveira Filho, conforme amplamente divulgado nos veículos de mídia nacional, ingressou sem autorização nas dependências do CTI do Hospital em questão. De mais a mais, este policial assediou o pai de Heloísa, buscando estabelecer conexões sem que isto fizesse parte de qualquer estratégia de ajuda institucional."