O Carnaval carioca recebeu com um misto de saudade e reverência a notícia da aposentadoria de Neguinho da Beija-Flor como intérprete oficial da escola de samba Beija-Flor de Nilópolis. Aos 75 anos, Luiz Antônio Feliciano Marcondes – nome de batismo do artista – anunciou que deixará os microfones após o desfile de 2025, encerrando uma trajetória que se confunde com a história da agremiação e com a essência do Carnaval do Rio de Janeiro.
Neguinho da Beija-Flor não é apenas um nome; é um símbolo. Sua voz inconfundível e o icônico grito "Olha a Beija-Flor aí, gente!" transformaram cada desfile da escola em um espetáculo único, carregado de emoção e energia contagiante. Desde que assumiu o posto de intérprete oficial, em 1976, ele se tornou a alma sonora da Beija-Flor, sendo responsável por embalar as multidões com sambas-enredos inesquecíveis.
Além de sua performance inigualável como puxador de samba, Neguinho também deixa um legado como compositor. Ele foi responsável, sozinho ou em parcerias, por criar clássicos como "Sonhar com Rei Dá Leão" (1976) e "A Criação do Mundo na Tradição Nagô" (1978), obras que marcaram gerações e perpetuaram a história da Beija-Flor no cenário do samba.
"Neguinho sempre será a voz da alegria, mas é impossível não sentir tristeza ao imaginar os desfiles sem ele no microfone principal", comentou um membro da comunidade da Beija-Flor.
A conexão de Neguinho com a Beija-Flor é tão intensa que muitos o comparam ao papel desempenhado por Jamelão (1913–2008) na Mangueira. Assim como Jamelão se tornou sinônimo de Mangueira, Neguinho será sempre o símbolo sonoro da Beija-Flor, mesmo longe do microfone oficial.
Essa relação vai além da música: está enraizada na cultura, na história e até no próprio nome artístico, que carrega a agremiação como um selo de identidade.
Embora o Carnaval de 2026 seja o primeiro sem Neguinho como intérprete oficial, seu legado continuará a ecoar na avenida. Neguinho não apenas fez história; ele é a própria história da Beija-Flor. Sua voz radiante, que tanto encantou o público e deu vida aos desfiles, permanecerá viva na memória dos foliões e da comunidade do samba.
"É um ciclo que se encerra, mas Neguinho é eterno. Ele jamais deixará de ser a voz da Beija-Flor", reforçou um fã da escola.
A aposentadoria de Neguinho marca o fim de uma era, mas também celebra uma trajetória de talento, dedicação e amor ao samba. Se o Carnaval é o palco da alegria, Neguinho da Beija-Flor será sempre sua melodia mais marcante.